Se pararmos para pensar de uma forma bem simplista que os recursos naturais são finitos e a humanidade consome mais do que o planeta oferece, qual o limite do esgotamento do planeta? Por Carolina de Avilez.

É inevitável repensar a vida dentro dos limites planetários. É urgente atualizar a lógica de se pensar o consumo e construir uma cultura de sustentabilidade - usá-la como vantagem competitiva e aceleradora do “crescimento” econômico. Soluções inovadoras podem gerar negócios coerentes, sustentáveis e rentáveis e, portanto, possíveis.

Mas como colocar as pessoas e o sistema a serviço da manutenção da vida? A solução poderia ser tão simples quanto é óbvio constatar que: é preciso frear o esgotamento dos recursos naturais. Condição necessária, porém, não suficiente: é preciso renovar e regenerar, criar condições para que a natureza se regenere. Usar lógicas que imitem a natureza. Daí o assunto em alta e em pauta: a economia circular. Que reproduz os ciclos da natureza.

O modelo de desenvolvimento econômico atual baseado na abordagem linear (extrair, produzir, consumir, descartar-desperdiçar) é catastrófico e não mais se sustenta. Resulta em degradação ambiental, em desigualdade social, em fome etc. A redefinição da ideia de crescimento pautada no modelo circular, aliada à criatividade e inovação, pode redesenhar o futuro.

 

Mulher olha para praia lotada
É preciso renovar e regenerar, criar condições para que a natureza se regenere. Foto: Érica Araium/ Diálogos Comestíveis

 

Um mundo embalado em plástico e entregue via web

A pandemia de coronavírus escancarou a realidade e acelerou as tomadas de decisão. Se, por um lado, a “digitalização” de uma série de empreendedores e empresas fez com que os negócios de entregas de produtos explodissem, por outro, o “delivery” entregou, excessivamente embalado, um problema e tanto para o futuro: resíduos, resíduos e mais resíduos.

Em 2020, as mais de 1,34 milhão de lojas online assinalaram um ritmo de crescimento ao e-commerce de 40,7% ao ano, segundo dados da 6ª edição da pesquisa Perfil do E-Commerce Brasileiro, resultado da parceria entre BigData Corp. e PayPal Brasil. Desses negócios, 76,55% vende entre 1 e dez produtos. As mídias sociais já são adotadas por 68,63% das lojas online – haja engajamento e conteúdo para “vender” ideias, produtos e serviços. Detalhe: há 28 milhões de sites ativos no Brasil, parte considerável de 1,5 bilhão pendurados na web no mundo.

A pergunta é: quantos produtos vendidos no mundo, hoje, são embalados em plástico, por exemplo? Segundo dados do completíssimo Atlas do Plástico, produzido pela Fundação Heinrich Böll com o movimento Break Free From Plastic e divulgado em 2020, o Brasil produziu 11,3 milhões de toneladas de plástico em 2018 – muito, mas pouco diante dos 70,7 estadunidenses e 54,7 chineses naquele mesmo ano.

Pondere, porém, sobre o “made in” que você lê nos produtos que compra e onde fica o seu “jogar fora” (de plástico pós-consumo e mais) para começar a ponderar sobre “delivery”Em média, um brasileiro produz 1 kg de resíduo plástico por semana. Já deu para entender o tamanho do problema e pedir comida começou a ficar mais indigesto... E foi exatamente o que aconteceu, globalmente, em 2020.

Detalhe: a Política Nacional de Resíduos Sólidos é de 2010 e, do que está no papel, pouco é cumprido. Ainda bem que para 800 mil catadoras e catadores em atividade no Brasil, “lixo” não existe. Aliás, o que é "lixo"?

Cena comum nas praias brasileiras: lixo, de todo o tipo, na areia. Foto: Érica Araium/Diálogos Comestíveis

Em 2018, segundo o atlas, 75% dos brasileiros não separavam recicláveis. Desses, 39% não separavam o lixo orgânico dos demais. E 77% sabiam que o plástico é reciclável, mas apenas 40% de fato reciclavam o material. Em quais estatísticas você se encaixa? E se a gente te lembrar de que, ainda segundo o levantamento, no ranking dos maiores poluidores do oceano por plástico, o Brasil ocupa a 16ª posição? Aquela garrafa PET jogada no lixo pode trazer, em breve, uma mensagem catastrófica pra você, bem no feriadão. Como aconteceu numa praia fluminense em vídeo registrado pelo Instituto Mar Urbano.

 

Cases pra pensar

Redesenhar, redesenho, redesign. Lixo é “erro de design”. Ora, mas o "lixo" é um problema e é solucionável, é possível recolher, destinar, reciclar, reinserir no sistema de produção. Nem simples nem fácil nem rápido, tem-se que limpar tudo o que já está nos mares, descartar corretamente, reciclar, regenerar.

Pois é. Na economia circular, reciclar é um dos muitos pilares para se pensar em como recolocar no sistema de produção todos os materiais. Para além disso, como redesenhar os produtos para sua reinserção na cadeia e pensar para além dos materiais, na regeneração dos recursos. Como os resíduos podem gerar valor?

Poderíamos citar outros muitos exemplos, mas vamos de bicicletas. A Nespresso, que promete carbono neutro em todas as suas xícaras até 2022, firmou parceria com a startup sueca Velosophy para produzir bikes com 300 cápsulas de alumínio descartadas – o quadro é feito do material reciclado e cada bike comprada significa a doação de outra para uma estudante de um país em desenvolvimento. Pensar no “como” as pessoas chegam aos seus destinos (mobilidade urbana) é, também, pensar no futuro mais saudável delas e das cidades.

Há exemplos bem legais de economia circular no documentário “Um presente à prova de futuro”, da brasileira Tocha Filmes, que explica o conceito a partir do modelo holandês de desenhar o futuro. A produção estreou na Globo News em fevereiro de 2021 e, em breve, deve ser levada para o contexto das escolas. Entre os depoimentos, destaque ao de Daniela Leite, fundadora do projeto Comida Invisível, que combate o desperdício de alimentos por meio de uma plataforma de doação de alimentos. A história do Comida, Diálogos contou em 2016, lembra?

Isso nos ata ao comer e às analogias possíveis. Se o planeta fosse um hambúrguer, poderíamos dizer que estamos próximos do último bocado... Você dividiria com mais gente? 

 

Hambúrguer do futuro. Foto: Carolina de Avilez/ Diálogos Comestíveis
Hambúrguer do futuro? Foto e arte: Carolina de Avilez/ Diálogos Comestíveis

 

 

 

 

 

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