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CONTEÚDO RELEVANTE SOBRE A INFORMAÇÃO QUE ALIMENTA
por Érica Araium

 

Gastronomia à brasileira

Que verbetes vêm à cabeça quando você pensa em "gastronomia brasileira"? Sem celeuma, sem polêmica e sem censura, assim de "bate-pronto", eu diria: em construção. Mais formalmente, entendo que o discurso sobre a “gastronomia brasileira” elaborado neste início de século XXI se constituiu a partir da memória sobre a sua própria historicidade. E digo isso em meu livro: Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha (Editora Dialética), recém-lançado (2022). Ele está disponível no site da editora e, também, nas principais plataformas de e-commerce nas versões física e e-book.

Ocorre que, muitas vezes, o que denomina-se "gastronomia" é, ainda, preâmbulo. É ainda molde. Se se pensar em "cozinha de autor" e, portanto, em alta gastronomia, os set-ups são mais longos: tem-se processos criativos diversos, muitas vezes embalados pela afeição inicial de um cozinheiro com a culinária regional que reconheceu nalgum rincão desse quase continente.

A gastronomia é multidisciplinar, mais ampla que o receituário em que se baseia. Por sua vez, o receituário é como um texto basal em que os verbetes circulam livres, leves e soltos até que, juntos passem a fazer sentido para um, mais um e, por fim, para muitos. E agora, Carlos?

 

Carlos Pacheco na Pinacoteca de São Paulo
Carlos Pacheco na Pinacoteca de São Paulo (arquivo pessoal, arte Diálogos Comestíveis)

Design e produção cultural no Brasil pós-moderno

O design e a produção cultural contemporâneos brasileiros carecem de atenção. Putz, e como. Num mundo imagético, próprio da reprodutibilidade técnica e da sociedade da espetacularização e do descontrole, tudo parece um "já vi". Nada soa original no contexto pós-moderno. Nem as imagens que criamos especialmente para ilustrar o que sigificam "produção cultural" e "design brasileiro" para dois artistas contemporâneos: Felipe Ribenboim (chef e produtor cultural, além de sócio do seminário Fruto) e Érika Pozetti (ilustradora e designer).

A imagem é uma forma de escrita. Mas temos andado sedados pela mediação feita pela mídia (ou pelos mídia), que nos empurra milhares de imagens. Sabe aquele tempo de pensar e chegar a uma conclusão crítica sobre o que vemos? Não existe mais. Tudo está fragmentado, deglutido, sintetizado em pílulas idiotas de entretenimento. "Nossos artistas dos anos 1920 falaram da antropologia cultural contra todos os colonialismos. Nossa era contemporânea pratica a iconofagia: ou nós devoramos as imagens ou são elas que nos devoram", resume o Doutor em Ciências da Comunicação Norval Baitello Júnior em "A Era da Iconofagia" (editora Paulus, 2014).

Processo criativo e cozinha afetiva

Tanto se discute o quão "afetiva" é a cozinha brasileira, hoje. Há ceticismo em todo lugar. Inclusive nas redes comunicacionais da gastronomia e nas redes sociais que fomentam toda celeuma. O fato é que a cozinha afetiva nos afeta tanto quanto se deixam afetar uns aos outros os chefs de cozinha quando criam em coletivo.

Ambas as colocações derivam de conteúdos ricos em nutrientes: "Ensaio Sobre a Cozinha Afetiva", de Jane Lutti (Editora Labrador, 2021). E "Redes Comunicacionais na Gastronomia: os processos criativos dos chefs de cozinha", tese de doutorado em comunicação e semiótica de Tatiana Lunardelli (2018). Tenho a sorte de ter ambas as autoras por perto.

Juntas, criamos pontuações acerca do que é ser (um cozinheiro) moderno no Brasil em 2022. Elas nos emprestaram 20 palavras, cada uma. E, a partir delas, desenvolvemos peças que, apresentamos agora e, entendemos, dialogam entre si.

AI Food

"É preciso rastrear o comestível. Ponderar sobre a origem, o caminho e o fim dos alimentos. A segunda frase, aqui parafraseada por já haver sido incorporada a ene discursos poliglotas, inclusive a este, permeia um sem fim de noções. A primeira, porção mais original, situa o leitor de que o Dossiê Comida da edição 198 da ComCiência (Unicamp, 2018), marchado a muitas mãos numa cozinha imaginária, barulhenta e linotipada à medida; e servido ainda fresco, deve ser devorado da capitular ao ponto final e revisitado como repeteco daquela saideira “das boas”. Desde 1999, nunca se falou tanto em gastronomia no Brasil. Não com a propriedade multidisciplinar que merece este prato cheio do jornalismo cultural. Pela força do hábito, pode-se determinar a organoléptica do amanhã". Este texto integra a dissertação Diálogos Comestíveis, apresentada à Unicamp em 2020. Estendemos aqui a discussão, agora focada na indústria de alimentos. E convidamos Cristina Leonhardt, a Sra Inovadeira, para pensar conosco. Aproveite!

MatriX dos Diálogos Comestíveis

Todo comer somos nós quem desenhamos. O que "comeremos", tanto em termos de informação quanto de alimentos, depende mais do que legamos "em rede" do que o que semeamos (na prática). Ou você ainda acredita que o que leva à boca é "escolha" unicamente "sua"? O input, sim, é seu. Mas o produto Eureka! desenvolvido pela indústria para aplacar necessidades diversas (praticidade, conforto, sabor de infância e mais) foi desenvolvido, garanto, bem antes de você "descobrir" algo na gôndola - virtual ou real, tanto faz. Seu rastro cria os desejos. Que depois lhe serão vendidos entre novos bites e bytes desconstruídos em "pratinhos" (as telas digitais) que cabem na palma da mão. O que é ser moderno? Tupi or not tupi?

Abaporu misterioso e moderno

Para quem trabalha com comunicação, arte e design (meu caso), a Semana de Arte Moderna traz um tanto de viço. De vida. E de referências múltiplas de um Brasil antropófagico. Faz pensar em Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e plêiade de outrora. Junto deles, dá para pensar em um multiverso, a la Stephen Hawking - ou seria "meta"verso, a la Mark Zuckerberg -, muito colorido e saboroso, próprio da alimentaria brasileira.

O jeito de ser brasileiro, em 2022, reflete um punhado de escolhas anteriores. Elas dizem da estética, da originalidade, da curiosidade, dos materiais disponíveis, das matérias-primas, dos processos criativos, da funcionalidade obtida, do acesso à informação etc e, por conseguinte, da antropologia do consumo à nossa moda, com as cores nacionais. Nosso abaporu não tem nada de misterioso, na verdade.

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